Reflexões

A Música e as Emoções: Por Que os Sons Nos Tocam Tão Profundamente?

A música esta presente nos momentos mais marcantes da nossa vida. Desde a infância, ela nos acompanha em celebrações, instantes de tristeza e momentos de reflexão. Às vezes, basta uma melodia para expressar o que as palavras não conseguem. Essa experiência pessoal se conecta a um fenômeno universal: a música transcende culturas e gerações, despertando emoções profundas e conectando-nos à nossa própria essência.

A Linguagem Universal dos Sons

Desde a Antiguidade, a música já era vista como algo especial. Pitágoras, no século VI a.C., percebeu que certas proporções matemáticas criavam sons agradáveis (consonantes) e outras causavam tensão (dissonantes) (Di Stefano et al., 2022). Até mesmo nossos ancestrais pré-históricos buscavam harmonia nos sons. Arqueólogos encontraram flautas feitas de ossos, sugerindo que a música já fazia parte da vida humana desde os primórdios (Zhang et al., 1999, citado por Di Stefano et al., 2022).

É fascinante imaginar nossos antepassados reunidos ao redor de uma fogueira, ouvindo melodias criadas com instrumentos rudimentares e sentindo as mesmas emoções que experimentamos hoje ao escutar uma canção marcante.

O Que Acontece no Cérebro Quando Ouvimos Música?

No século XIX, Hermann von Helmholtz investigou por que certos sons soam agradáveis e outros incômodos. Ele concluiu que a resposta estava nas frequências e na forma como interagem no sistema auditivo. Sons consonantes transmitem suavidade, enquanto os dissonantes criam tensão, provocando emoções específicas (Helmholtz, 1885).

Com os avanços da neurociência, sabemos que a música ativa diversas áreas cerebrais ligadas à emoção, memória e prazer. Músicas agradáveis liberam dopamina, o hormônio do prazer, proporcionando sensações semelhantes às experimentadas ao saborear uma comida deliciosa ou reviver um momento especial. Por outro lado, sons dissonantes podem despertar tensão e ansiedade, ativando regiões cerebrais associadas ao medo.

Talvez seja por isso que trilhas sonoras de filmes de terror conseguem nos deixar tão nervosos!

A Música Como Mais do Que Entretenimento

A música sempre esteve presente nos momentos mais emocionantes da história — desde as trilhas sonoras que nos fazem chorar em filmes até canções que descrevem perfeitamente nossos sentimentos. No cinema mudo, filmes como Visages d’enfants (1925) usaram a música para dar vida às cenas e conectar os espectadores às emoções (Nasta, 2023).

Entretanto, a música vai além do entretenimento. Hoje, ela é também uma ferramenta terapêutica. Estudos mostram que ouvir música pode melhorar o humor, reduzir a dor e estimular a memória, sendo especialmente valiosa no tratamento de doenças como Alzheimer e Parkinson (Avramidis et al., 2022; Falcon et al., 2022; Fasano et al., 2023; Kawashima et al., 2024; Lu et al., 2023).

Quem nunca sentiu um arrepio ao ouvir uma música especial? Muitas vezes, uma canção parece descrever exatamente o que estamos sentindo, trazendo conforto e conexão emocional.

Em suma, a música é mais do que uma organização de sons; é uma linguagem universal que fala diretamente ao coração humano. Desde Pitágoras até as modernas pesquisas em neurociência, sabemos que ela exerce um papel fundamental na vida — seja como arte, terapia ou fonte de prazer.

Independentemente da sua relação com a música, uma coisa é certa: A musica tem o poder de nos fazer sentir vivos.

Em um mundo repleto de palavras, muitas vezes é nos sons que encontramos as respostas que procuramos.

Rogério Lima
 
 

Referências:

Avramidis, K., Garoufis, C., Zlatintsi, A., & Maragos, P. (2022). Enhancing Affective Representations Of Music-Induced Eeg Through Multimodal Supervision And Latent Domain Adaptation. ICASSP 2022 – 2022 IEEE International Conference on Acoustics, Speech and Signal Processing (ICASSP), 2022-May, 4588–4592. https://doi.org/10.1109/ICASSP43922.2022.9746643

Di Stefano, N., Vuust, P., & Brattico, E. (2022). Consonance and dissonance perception. A critical review of the historical sources, multidisciplinary findings, and main hypotheses. Physics of Life Reviews, 43, 273–304. https://doi.org/10.1016/j.plrev.2022.10.004

Falcon, C., Navarro-Plaza, M. C., Gramunt, N., Arenaza-Urquijo, E. M., Grau-Rivera, O., Cacciaglia, R., González-de-Echavarria, J. M., Sánchez-Benavides, G., Operto, G., Knezevic, I., Molinuevo, J. L., & Gispert, J. D. (2022). Soundtrack of life: An fMRI study. Behavioural Brain Research, 418. https://doi.org/10.1016/j.bbr.2021.113634

Fasano, M. C., Cabral, J., Stevner, A., Vuust, P., Cantou, P., Brattico, E., & Kringelbach, M. L. (2023). The early adolescent brain on music: Analysis of functional dynamics reveals engagement of orbitofrontal cortex reward system. Human Brain Mapping, 44(2), 429–446. https://doi.org/10.1002/hbm.26060

Falcon, C., Navarro-Plaza, M. C., Gramunt, N., Arenaza-Urquijo, E. M., Grau-Rivera, O., Cacciaglia, R., González-de-Echavarria, J. M., Sánchez-Benavides, G., Operto, G., Knezevic, I., Molinuevo, J. L., & Gispert, J. D. (2022). Soundtrack of life: An fMRI study. Behavioural Brain Research, 418. https://doi.org/10.1016/j.bbr.2021.113634

Fasano, M. C., Cabral, J., Stevner, A., Vuust, P., Cantou, P., Brattico, E., & Kringelbach, M. L. (2023). The early adolescent brain on music: Analysis of functional dynamics reveals engagement of orbitofrontal cortex reward system. Human Brain Mapping, 44(2), 429–446. https://doi.org/10.1002/hbm.26060

Hermann von Helmholtz. (1895). On the Sensations of Tone as a Physiological Basis for the Theory of Music.

Kawashima, T., Shiratori, H., & Amano, K. (2024). The relationship between alpha power and heart rate variability commonly seen in various mental states. PLoS ONE, 19(3 March). https://doi.org/10.1371/journal.pone.0298961

Lu, X., Hou, X., Zhang, L., Li, H., Tu, Y., Shi, H., & Hu, L. (2023). The effect of background liked music on acute pain perception and its neural correlates. Human Brain Mapping, 44(9), 3493–3505. https://doi.org/10.1002/hbm.26293

Nasta, D. (2023). Musical Moments as Narrative and Emotional Catalysts in Three Silent Films by Jacques Feyder. In Palgrave Studies in Audio-Visual Culture (pp. 57–74). Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-89155-8_4

 

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